Eliane Lima Guerra
Nunes (elguerranunes@gmail.com )
No mal estar contemporâneo, outras constelações de sintomas são
apresentadas e, poderemos configurá-las como patologias do consumo, como a
anorexia, a bulimia, a obesidade mórbida e a toxicomania.
Para Lacan (1992), segundo Santiago (2001), esse é um sintoma do homem
moderno, que por estar imerso no discurso capitalista, buscaria sua forma
particular de obter a satisfação.
Assim, dentro desse discurso, em sua vertente
médico-jurídica, é oferecida
uma “prótese imaginária”, mantendo-os identificados
a um significante – “eu sou alcoólatra, dependente de...”, frequentemente
observados em suas falas (Miller, 1993). Segundo Miller (2000), os sujeitos
ficam identificados ao lugar de objeto e não ao lugar de objeto-causa,
permanecendo atados ao seu parceiro-sintoma.
A particularidade de cada sujeito é descartada e os
afetados tornam-se apenas portadores de uma “doença incurável”, onde os
tipos de drogas utilizadas são hipervalorizadas, classificando-os pelo uso,
abuso e/ou dependência presentes no CID-10/F10-19 (OMS, 1990). Nesse campo a
cura passa primeiramente pela exigência da abstinência e, em seguida, pela
introdução de medicamentos e orientações dentro do enfoque comportamental e
cognitivo.
Os toxicômanos, por sua vez, não se apresentam à
clínica, divididos e desejosos de saber sobre o seu “mal’, sedentos por
uma interpretação. Desejam apenas amortizar a angústia e, talvez, um “saber-fazer”
algo com seu corpo devastado por essa forma de gozo além de uma forma de
manejar a castração (Coelho dos Santos, 2002; Mollo, 2009).
Assim, no campo da toxicomania, caracterizada pela
ação (atuação) dos sujeitos, exigiria, também, um ato por parte dos
psicanalistas que, ao assumirem a posição de analista, ofereceriam um lugar
para o particular de cada sujeito. (um ato que, como diz Mazzei, escapa ao modelo do
sintoma freudiano)
O presente núcleo buscará subsídios teóricos que
sustentem um outro olhar no campo da toxicomania, pautados pela clínica
e a discussão de casos.
Referências :
COELHO DOS SANTOS, T. O
analista como parceiro dos sintomas inclassificáveis. In: A fuga das doenças impossíveis. Latusa:
n° 7. Rev Escola Bras Psicanálise. Rio de Janeiro: Contra capa Ed.; 2002.
LACAN, J. O Seminário, livro 17: o
avesso da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; 1992.
Mazzei, D.
Toxicomanias. São Paulo: Editora Escuta. 2000.
MILLER, J.A. Para una investigación sobre el
goce autoerótico. In: Sujeto, Goce
y Modernidad: Fundamentos de la clínica, Toxicomanía y Alcoholismo.
Instituto del Campo Freudiano - Atuel. Buenos Aires: TyA; 1993.
MILLER, J.A. Os
circuitos do desejo na vida e na análise. Rio de janeiro: Contra Capa;
2000.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE
SAÚDE - OMS/WHO. Código
Internacional de Doenças - Décima revisão (CID-10), 1990. Disponível em:
http://www.who.int/classifications/icd/en/. Acesso em: 01 dez 2006.
SANTIAGO, J. A Droga do
Toxicômano: uma parceria cínica na era da ciência. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor; 2001. pag. 188 – 198.
MOLLO, Juan Pablo de. La eyaculacion precoz, la toxicomania y las muletas de la época.Pharmacon 11; 2009. pg 161-7.
Próximas reuniões:
Local: CLIPP – Rua Cardoso de Almeida, 60 cj 111. Perdizes São
Paulo.
Horário: 10:00 horas
O núcleo é oferecido gratuitamente para estudantes e
profissionais interessados no tema. Para participar basta contatar um dos
coordenadores e comparecer às reuniões.
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