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Programa
“Braços Abertos” :
há braços abertos para toda a cidade?
Eliane
Nunes*
Vemos que as
políticas de drogas neste país, vão de tolerância zero, que aconteceu
recentemente no governo Kassab/Alkmin em referência à Cracolândia Paulista, até
este que se propõe a ser mais tolerante e não exigir nada dos participantes.
São tentativas
de sanear a bagunça que se tornou anos de descaso na região do Centro de São
Paulo conhecida como "Cracolândia" e, local de muito interesse imobiliário e,
lamentavelmente, uso político.
As
intervenções higienistas fizeram com que o CRATOD, do governo do estado, antes
referência para vários serviços e que estava em transformação para um CAPS AD
III, se transformasse pretensamente em um centro triador para os CAPS AD da cidade, tanto os da região central
como os da periferia de São Paulo, como
se fosse ele (serviço do estado), a porta de entrada de um sistema devidamente articulado com a prefeitura. Deixando assim de cumprir em servir para a assistência de munícipes desta região, como o Caps Ad Sé e o Complexo Prates, ambos gestados pela prefeitura.
A verdade é
que faltam leitos hospitalares tanto em hospitais gerais para a internação de pacientes críticos (em
risco de morte e vitimados pela intoxicação ou síndrome de abstinência, por exemplo) e para aqueles que não são só dependentes químicos mas, também, portadores de
outros transtornos como a deficiência mental, a esquizofrenia, entre outros.
As
comunidades terapêuticas, as poucas antes conveniadas, muitas delas descredenciadas por
falta de condições e propostas terapêuticas, não desejam receber esse tipo de
paciente. Todos esses pacientes demandam equipes bem formadas, médicos responsáveis e,
sobretudo, manejo da dependência e da comorbidade que, via de regra, exige equipe e medicalização.
Assim, tal
projeto, é bem vindo pois pretende pensar a dependência química sob outro viés. Ou seja, dar trabalho protegido aos usuários miseráveis.
Mas só para os da Cracolândia central? E as outras inúmeras cacrolandias da periferia?
Mas só para os da Cracolândia central? E as outras inúmeras cacrolandias da periferia?
Não há
braços disponíveis para todos os dependentes químicos que são miseráveis, em
situação de rua e que vivem em abrigos e são atendidos nos CAPS-Ad?
Lamentavelmente não. Esse é mais um projeto solto. Esses usuários da periferia continuam marginalizados e abandonados.
Lamentavelmente não. Esse é mais um projeto solto. Esses usuários da periferia continuam marginalizados e abandonados.
Estes
usuários poderiam receber uma proposta de trabalho assistido e seriam
supervisionados pelas equipes porém, sequer recebem suporte em oficinas de
geração de renda, nos próprios CAPS Ads, porque estes não possuem equipe e uma proposta
política de saúde mental e assistência social que visem a inclusão
psicossocial na amplitude do problema municipal.
A morosidade e a burocracia impedem neste último ano de avançarmos logo nesta direção saudável.
A morosidade e a burocracia impedem neste último ano de avançarmos logo nesta direção saudável.
E, o pior, é
que por razões que desconhecemos, estamos enfrentando um total desabastecimento
de medicamentos nos CAPS Ad e na rede, como antidepressivos simples (Fluoxetina, Sertralina e Amitripitilina) e ansiolíticos (Diazepam) na rede municipal
de São Paulo, medicação necessária para conter a fissura, a síndrome de
abstinência e as co-morbidades associadas como a depressão.
O projeto “Braços Abertos” deveria ser verdadeiro
e não ter apenas apelo político para uma região que merecidamente necessita de ajuda.
São Paulo é
uma cidade rica e certamente, esta deveria ser uma política para toda uma cidade
que tem suas inúmeras cracolândias em locais que não incomodam os poderes e não chamam
atenção da mídia.
*Eliane
Nunes – médica psiquiatra – Doutora pela FMUSP no tema prostituição feminina, drogas e aids.
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